As energias renováveis representaram 34,9% da energia injetada nos Açores em 2023, destacando-se a geotermia e a eólica, mas os combustíveis fósseis ainda predominam.
As energias renováveis representaram 34,9% da energia injetada na rede elétrica dos Açores em 2023, um crescimento significativo de 4,6 pontos percentuais face ao ano anterior. Apesar deste avanço, o contributo renovável na região ainda se encontra abaixo da média nacional (61%) e da União Europeia (UE) (44,7%), de acordo com o relatório de contas e sustentabilidade da Empresa de Eletricidade dos Açores (EDA).
Redução da emissão de combustíveis fósseis
A produção de energia a partir de combustíveis fósseis, como o fuelóleo e o gasóleo, continua a predominar no arquipélago, representando 63,5% da energia total emitida em 2023. No entanto, este valor traduz uma ligeira redução de 0,7% em relação a 2022, sinalizando esforços contínuos para a transição energética.
A energia geotérmica, recurso abundante nos Açores graças à sua origem vulcânica, foi responsável por 22% do total de energias renováveis no arquipélago, registando um crescimento de 6,3% em relação ao ano anterior. Este aumento foi atribuído a uma redução no tempo de manutenção das centrais geotérmicas, permitindo maior produção ao longo do ano.
As condições naturais únicas dos Açores tornam a geotermia uma peça-chave para a sustentabilidade energética da região. Atualmente, o arquipélago é um dos poucos territórios em Portugal a explorar amplamente este recurso, destacando-se como um exemplo de inovação no aproveitamento de fontes renováveis.
Outro destaque em 2023 foi o crescimento da energia eólica, que passou a representar 8,7% da produção renovável no arquipélago, um aumento de 7,1% face ao ano anterior. Este desempenho foi impulsionado por condições climáticas favoráveis, que permitiram maior eficiência das turbinas instaladas.
Embora a energia solar ainda não tenha um peso expressivo nos Açores, o potencial para expansão existe, especialmente com os avanços em tecnologias de armazenamento de energia, como os sistemas BESS (Battery Energy Storage System).
Investimentos em sustentabilidade
A EDA está a implementar novos projetos para aumentar o contributo das energias renováveis no sistema elétrico do arquipélago. Um dos investimentos em destaque é a introdução de sistemas de reserva rápida do tipo BESS, que não só melhoram a estabilidade da rede elétrica, como também reduzem a dependência dos combustíveis fósseis.
Segundo a empresa, estas iniciativas são cruciais para potenciar a sustentabilidade e promover a autonomia energética da região, enquanto criam oportunidades para diversificação económica e ambientalmente consciente.
No panorama nacional, os dados mais recentes indicam que 68% da eletricidade consumida em outubro de 2024 foi proveniente de fontes renováveis, em especial a energia eólica (32,5%), hídrica (23,1%), solar fotovoltaica (7,2%) e a biomassa (4,7%). Este desempenho reflete uma tendência de crescimento sustentado das renováveis em Portugal, que tem investido significativamente em tecnologias de baixo carbono.
Na União Europeia, as energias renováveis também lideraram a produção de eletricidade em 2023, representando 44,7% do total, um aumento de 12,4% face a 2022. Por outro lado, a eletricidade gerada a partir de combustíveis fósseis caiu 19,7%, ilustrando os esforços concertados da UE para alcançar as metas de neutralidade carbónica.
Os desafios para os Açores
Apesar dos avanços, os Açores enfrentam desafios significativos para reduzir a sua dependência de combustíveis fósseis e alcançar níveis de produção renovável comparáveis ao continente ou à média europeia. A insularidade do arquipélago, combinada com limitações tecnológicas e logísticas, continua a dificultar a implementação de soluções energéticas mais diversificadas.
O arquipélago também precisa de reforçar a integração de energia solar e biomassa no mix energético, aproveitando melhor os recursos disponíveis. Além disso, a dependência de fontes renováveis como a geotermia e a eólica exige um planeamento meticuloso para evitar interrupções na produção, particularmente em períodos de manutenção ou variações climáticas.
A aposta em sistemas de armazenamento energético, como os BESS, e na ampliação da capacidade instalada em energias renováveis, aponta para um futuro mais sustentável nos Açores. O objetivo passa não só por reduzir a pegada ecológica, mas também por garantir uma maior resiliência e independência energética para a região.
Com os avanços registados em 2023 e os projetos em curso, os Açores têm potencial para se tornarem uma referência em transição energética para territórios insulares, alinhando-se com as metas nacionais e europeias de descarbonização. O sucesso dependerá, contudo, da capacidade de atrair investimentos, inovação tecnológica e políticas públicas robustas.
As energias renováveis representam uma oportunidade para mitigar os efeitos das alterações climáticas, mas também para fortalecer a economia local, criando um modelo de desenvolvimento sustentável adaptado às características únicas do arquipélago.